Modelos de rega de precisão | garantindo a gestão ideal da água
A aplicação correcta de modelos de rega gota a gota permite alcançar objectivos de produção e qualidade, mesmo nas épocas mais difíceis, assegurando ao mesmo tempo uma gestão óptima da água.
Ensaios experimentais de rega gota a gota a taxas variáveis e com DSS (Sistema de Apoio à Decisão) em Franciacorta em 2020-2021 mostraram uma poupança de água de 17% com rega gota a gota de precisão.
A rega gota a gota nas vinhas é uma questão cada vez mais importante para a viticultura europeia. De facto, previsões incertas sobre a extensão e o impacto das alterações climáticas tornarão os cenários futuros muito diferentes dos actuais. Diferentes padrões de precipitação e temperaturas crescentes parecem destinados, em diferentes áreas vitícolas, a aumentar os fenómenos de grave stress hídrico, com repercussões inevitáveis no rendimento e qualidade das uvas, no estilo e personalidade dos vinhos e, nos casos mais extremos, no potencial vitivinícola dos territórios. Para lidar com esta nova situação, já prevista em vários estudos, os viticultores podem contar com diferentes estratégias a serem adoptadas em função do período de tempo considerado e da intensidade do stress hídrico esperado (Figura 1).
DIFERENTES ESTRATÉGIAS PARA A ADAPTAÇÃO DA VITICULTURA ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Autor: Quenol et al. (2016) – Adaptar a viticultura às alterações climáticas.
Entre eles, a rega gota a gota é uma solução adequada a longo prazo para responder ao elevado stress hídrico, reduzindo a dependência de condições meteorológicas em constante mudança, e alcançando padrões de qualidade e produção mesmo nos anos mais difíceis. Contudo, embora a rega gota a gotase tenha generalizado na viticultura do Novo Mundo, tal não é o caso na Europa, onde só recentemente foi introduzida na maioria das regiões vitivinícolas. É portanto necessário definir brevemente novos protocolos específicos para a concepção e gestão de sistemas de rega gota a gota adaptados às características típicas de cada zona de produção, mas ao mesmo tempo devem concentrar-se na optimização da água, quer devido à escassez do recurso, quer devido às repercussões que a sua gestão tem na qualidade das uvas.
O teste de campo no âmbito do projecto Virecli (ver caixa) sobre rega gota a gota de precisão oferece uma solução para esta necessidade precisa.
O projecto Virecli visa experimentar e aplicar técnicas agrícolas de precisão para regular o equilíbrio vegetativo-produtivo, proteger o solo e, em geral, promover a adaptação da viticultura às alterações climáticas. A rega é um dos temas principais. O projecto, financiado pela Região Lombardia no âmbito do Plano de Desenvolvimento Rural, envolve investigadores da Universidade de Milão, da Cattolica de Piacenza e da Universidade de Pavia. As adegas que acolhem as provas como parceiros activos do projecto situam-se entre Franciacorta (Ferghettina, Castello di Gussago La Santissima, Vezzoli Giuseppe) e Oltrepò Pavese (Conte Vistarino, Tenute Tonalini).
O SISTEMA DE APOIO À DECISÃO PARA REGA GOTA A GOTA DE PRECISÃO
Durante o julgamento, um dos dois sistemas de apoio à decisão (DSS) utilizados é o Manna. Um sistema desenvolvido pela Rivulis que se baseia em dados de satélite de alta resolução frequentemente actualizados. Estes, combinados com informação meteorológica altamente localizada, permitem conselhos de rega gota a gota específicos do local. O sistema também permite receber mapas periódicos do estado da NDVI e da água do solo, sempre com base em dados de satélite.
O TESTE PILOTO
O teste experimental foi realizado numa vinha de Franciacorta (cv Chardonnay) de 4,5 hectares, propriedade da quinta Ferghettina, onde são comparados diferentes métodos de REGA GOTA A GOTA, sempre geridos em conformidade com os regulamentos de produção.
Em detalhe, estas são as 4 teses: (figura 2)
- Sistema de rega gota a gota com caudal variável, concebido tendo em conta a variabilidade das necessidades de água das plantas dentro da parcela e gerido de acordo com o protocolo experimental, com a ajuda de sistemas de apoio à decisão; (VRT)
- Sistema de rega gota a gota existente, mas gerido de acordo com o protocolo experimental, com a ajuda de sistemas de apoio à decisão; (I+)
- Sistema de rega gota a gota já existente e gerido de acordo com o protocolo da empresa; (AZ)
- Controlo sem REGA GOTA A GOTA; (NI)
POSICIONAMENTO DAS 4 TESES NA VINHA E CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA DE REGA
DESENHO DO SISTEMA DE REGA GOTA A GOTA
Durante o primeiro ano do ensaio (2020), o trabalho centrou-se na concepção do sistema de REGA GOTA A GOTA. Em particular, foi efectuada uma análise precisa das características do solo e da sua variabilidade no interior da vinha. Isto foi possível graças à aplicação das mais recentes técnicas geofísicas baseadas na aquisição de resistência eléctrica. Na verdade, esta magnitude está fortemente ligada aos principais parâmetros físico-químicos do solo e a sua interpretação leva a dividir a vinha em cinco zonas homogéneas com propriedades hidrológicas uniformes do solo (Figura 3).
DISTRIBUIÇÃO DAS 5 UNIDADES CARTOGRÁFICAS IDENTIFICADAS DENTRO DA VINHA (DIREITA) E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO PERFIL (ESQUERDA)
As letras brancas nos perfis do solo, à esquerda, referem-se aos horizontes pedológicos.
A vinha pode ser dividida em duas grandes zonas: uma menos sujeita a stress hídrico (zona 1, correspondente no mapa às unidades em amarelo, verde e azul) e a outra potencialmente mais exposta (zona 2, unidades em vermelho e laranja).
Cada zona homogénea foi finalmente caracterizada por uma análise pedológica, que mostrou como os solos com textura, profundidade e capacidade de armazenamento de água diferentes coexistem na vinha. Dois deles apresentavam perfis mal estruturados e pouco profundos (mostrados a vermelho e laranja no mapa), o que por vezes levava a uma drenagem excessiva, expondo as plantas a um maior risco de stress hídrico.
As medições subsequentes durante o período de crescimento permitiram avaliar as diferentes respostas das plantas em cada unidade de solo (quadro 1 e figura 4), revelando diferenças estatisticamente significativas tanto no estado da água das plantas como nos parâmetros qualitativos dos mostos aquando da colheita. Nos solos mais drenados, o stress hídrico era mais elevado do que nos outros, enquanto que na colheita os mostos se caracterizavam por maior teor de açúcar e menor acidez. O relevo do drone NDVI permitiu a identificação de duas zonas de vigor que correspondem em grande parte às unidades de solo. A análise de todos estes dados permitiu dividir a vinha em duas zonas: uma menos sujeita a fenómenos de stress hídrico (zona 1, que corresponde no mapa às unidades em amarelo, verde e azul) e a outra potencialmente mais exposta (zona 2, unidades em vermelho e laranja).
PARÂMETROS DE QUALIDADE DA UVA NA VINDIMA E ÍNDICE CWSI (ÍNDICE DE STRESS HÍDRICO DAS CULTURAS) DETECTADOS NAS DIFERENTES UNIDADES CARTOGRÁFICAS T.1
Ver figura 3. dados referentes à época de 2020. Significância de acordo com o teste univariado ANOVA e o teste de Duncan *** p <0,001; n.s. = não significativo; letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas.
DISTRIBUIÇÃO DE ALGUNS PARÂMETROS DE QUALIDADE DOS MOSTOS NA VINHA F.4
Dados para a época 2020
Com base nos dados preliminares recolhidos, a concepção do sistema de rega gota a gota de fluxo variável previu a criação de duas zonas, perpendiculares às linhas e criadas através da colocação de uma única linha gota a gota caracterizada por diferentes espaçamentos entre gotejadores, maior na zona VRT1 (alto vigor) e menor na zona VRT2. (Esta solução foi adoptada através da aplicação de tampões de saída dos gotejadores – Hydroclips – aos gotejadores, para os fechar e modular o seu espaçamento. Desta forma, cada programa de rega gota a gota distribui menos água na primeira zona do que na segunda, satisfazendo as diferentes necessidades de água das plantas, devido às diferentes características do solo.
A linha gota a gota utilizada, o Rivulis Hydro PC, é autocompensante (PC). É um sistema capaz de garantir o mesmo caudal por gotejador independentemente da pressão (dentro da gama de pressão recomendada), o que assegura uma distribuição uniforme da água e dos nutrientes porque a uma dada pressão todos os gotejadores têm o mesmo caudal definido mesmo em terrenos ondulados ou em longas distâncias. O seu gotejador cilíndrico com 2 saídas de água em cada gotejador também garante uma qualidade duradoura e uma elevada resistência ao entupimento.
GESTÃO DA REGA GOTA A GOTA: RESULTADOS DO PRIMEIRO ANO
Após o estudo preliminar e a instalação do sistema de rega gota a gota em 2020, o teste com a comparação das diferentes teses foi lançado em 2021. Para a gestão da tese VRT e I+, o protocolo baseou-se na utilização de dois sistemas de apoio à decisão (DSS), calibrados e validados durante a época através de uma série de medições fisiológicas das plantas (potencial de água foliar pré-dourada; actividade fotossintética; CWSI – Crop Water Stress Index), foram também utilizadas algumas sondas de humidade do solo colocadas em pontos estratégicos da vinha e uma estação meteorológica. No momento da colheita, em cada tese e em cada zona, foram recolhidos dados de dez plantas, registando tanto os parâmetros vegetativos produtivos como os relativos à maturidade tecnológica.
Os primeiros dados interessantes estão indubitavelmente relacionados com os volumes de rega gota a gota utilizados. A gestão da taxa de rega gota a gota variável levou a uma poupança de água de 17% (média ponderada) em comparação com o padrão da empresa. É também interessante notar que este número é o resultado de um aumento de 28% nos volumes de rega gota a gota com baixo vigor (VRT2) acompanhado de uma redução de 36% com alto vigor (VRT1), satisfazendo assim melhor as necessidades da planta. Em comparação com estas poupanças, os resultados produtivos e qualitativos não mostram diferenças significativas em comparação com outros sistemas de REGA GOTA A GOTA. Além disso, na tese da VRT, há uma tendência geral para suavizar as diferenças entre áreas de diferente vigor. Esta maior homogeneidade é evidente na produção por videira, graças a um aumento da produtividade na zona de baixo vigor (+0,4 kg/planta em comparação com a gestão da empresa), mas também nos aspectos qualitativos dos mostos. De facto, no que diz respeito à acidez, parâmetro fundamental para a base de um vinho espumante, na tese da VRT as diferenças entre as duas zonas de vigor são drasticamente reduzidas graças a valores mais elevados na zona de baixo vigor, (6,48 g/L em comparação com 5 g/L para a gestão da empresa) com uma diferença assim reduzida para menos de 2 g/L, em comparação com 5 g/L para a outra tese. A mesma tendência é também registada para o pH e o teor de açúcar dos mostos. Também neste último caso, as diferenças foram quase eliminadas no VRT, (1 ° Brix) enquanto que nas outras teses são significativas, atingindo até 3 graus de álcool potencial. (gráficos 1 a 6).
PRODUÇÃO POR PLANTA NA COLHEITA (2021) G.1.
PH DA UVA NA VINDIMA (2021) G.2
ACIDEZ TOTAL NA VINDIMA (2021) G.3
TEOR DE AÇÚCAR DAS UVAS NA VINDIMA (2021) G.4
ÍNDICE DE RAVAZ (RELAÇÃO ENTRE A UVA PRODUZIDA E A MADEIRA DE PODA) (2021) G.5
REGA GOTA A GOTA E QUALIDADE
A aplicação correcta de modelos de rega gota a gota de precisão permite alcançar objectivos de produção e qualidade, mesmo nos períodos mais difíceis, assegurando uma utilização óptima da água.
Além disso, em vinhas com variabilidade espacial do solo e características topográficas, pode ser um instrumento válido para homogeneizar a produção, fazendo-a convergir para níveis consistentes com os objectivos enológicos pré-estabelecidos. Desta forma, é possível atingir níveis óptimos de rendimento e qualidade de fruta mesmo nas áreas potencialmente mais expostas ao stress hídrico.
A Rivulis, graças à sua experiência e paixão pela rega gota a gota há mais de 50 anos, demonstrou ser o parceiro ideal para gerir melhor a qualidade das uvas e garantir uma produção mais uniforme, graças ao sistema de rega gota a gota utilizado e ao software Manna, capaz de identificar o momento certo e a quantidade certa de água a ser distribuída.
Stefania De Pirro
Davide Modina
Lucio Brancadoro